É festa de São João e a alegria parece não ser a mesma de outrora. Talvez a lenha da fogueira tenha esfriado de tanta chuva ou o milho assado já tenha chegado ao fim devido à plantação que embrejou. As quadrilhas até que estão animadas, quem sabe um pouco exageradas, sem a espontaneidade que era a marca registrada dessa brincadeira em dias de festa.
Esse argumento cheira a saudosismo no calor da fogueira, ao lembrar os primeiros amores e as brincadeiras do “anel” e dos “três, três passarás”. Não duvido. É que sou do tempo em que o pai dizia: “direis com quem andas, que te direis quem és” e a gente escutava. Outro princípio ultrapassado, mormente para os políticos que, dependendo das circunstâncias, falam em defesa de um colega que se envolveu com falcatruas.
Aliás, na política, a verdade é sempre relativizada. Prova é que o cidadão João Batista de Araújo, depois que ficou desempregado de uma indústria de confecções, no bairro de Fátima, em Fortaleza, virou catador de lixo e dorme dentro do seu carro de flandres com madeira, em frente à extinta empresa. Para Seu João não existe proteção do estado que esquente seu colchão nessas noites frias e chuvosas.
Pois bem, Seu João e centenas de moradores de rua que vivem de migalhas em meio a restos de lixo, trabalhando de maneira perigosa para sustentar mulher e filhos, ao que parece, não têm quem fale por eles. Um simples albergue em que pudessem tomar um prato de sopa e passar a noite teria mais serventia do que o castelo do deputado federal Edmar Moreira, construído com dinheiro de origem duvidosa.
A festa de São João, como existia antes, acabou. Ficaram as quadrilhas no movimento de “approprier” das verbas públicas e de seus cachês vergonhosos pagos aos cantores ditos sertanejos. Seu João que dorme ao relento e faz dos jornais seu lençol, ao ouvir os folguedos, confundiu com tiros de revólver de mais uma execução na vizinhança. Viva São João e, por milagre, viva Seu João!
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