sábado, 24 de novembro de 2012

A PARÁBOLA DO PADRE DONATTI

Em 13 de novembro deste ano, o professor de Ciências Políticas Pedro Henrique Chaves Antero escreveu, no espaço Opinião, o artigo “Equívoco do Padre Donatti”. Ele aludia à Caminhada da Seca, evento promovido pelo ex pároco da cidade de Senador Pompeu, na década de oitenta, para lembrar os flagelados de 1932. Segundo o articulista, Padre Albino Donatti equivocou-se ao comparar a situação de confinamento dos trabalhadores no canteiro de obras da Barragem do Patú – por conta de uma gravíssima infecção estomacal que ceifou centenas de vidas – aos campos de concentração da Alemanha Nazista.
O Professor Henrique lembra que todo fato histórico deve ser analisado dentro de seu contexto. Ora, Padre Albino Donatti utilizou um recurso da linguagem bíblica ao fazer uma parábola com o propósito de ser melhor compreendido. Além disso, não é demais frisar que o local em que ficaram confinados os trabalhadores doentes da Barragem do Patú estava sob forte vigilância policial. Eles praticamente morriam à míngua, não fosse a coragem de um solitário médico que, desprovido de recursos, visitava-os.
Ainda hoje ecoam os gritos que antecediam a morte daquela gente sofrida na memória dos moradores mais velhos da cidade. Ao amanhecer, a população era informada de quantos homens haviam morrido durante a noite. Os mesmos eram deixados ao deus dará. Diante de tal situação extrema, os governos municipal, estadual e federal deviam ter tomado providências urgentes quanto à saúde pública.
Fui advogado do Centro Interparoquial de Defesa dos Direitos Humanos de Senador Pompeu e Milhã, fundado por Padre Donatti, e acompanhei o criterioso trabalho de evangelização do nosso vigário junto às comunidades do município. Portanto, sou testemunha de que ele conversou com antigos trabalhadores e formou um acervo de fotografias e documentos referentes à memória da Barragem do Patú. Padre Donatti tinha conhecimento de causa ao falar de um assunto
Desse trabalho de evangelização, brotaram consciência política e organização administrativa nas comunidades das zonas urbana e rural de Senador Pompeu. Sem dúvida, esse foi o grande legado do trabalho de Padre Donatti, que certamente incomodou bastante os políticos que manobravam aquela gente como se faz em curral eleitoral. 

Aos Vinte


Por Raisa Christina (http://corposonoro.tumblr.com/)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Olhar dos Humilhados


Meu mais recente livro de crônicas. Encontra-se disponível na livraria Lua Nova (Av. Treze de Maio, 2861 - Benfica, Fortaleza - CE) e na livraria do Jornal O Povo (Av. Aguanambi, 282). Logo mais, estará nas livrarias Cultura e Saraiva.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lançamento - Livro "O Olhar dos Humilhados"



É com muito carinho que gostaria de convidá-los ao lançamento de meu livro de crônicas "O Olhar dos Humilhados", na próxima quarta-feira (17/10), às 19h, no Espaço O POVO de Cultura & Arte. O jornalista Plínio Bortolotti fará a apresentação.

Endereço: Avenida Aguanambi, 282, José Bonifácio

Abraços.

terça-feira, 17 de julho de 2012

PREFEITO, UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO



Antigamente a pessoa mais importante da cidade era o coronel, com ou sem patente. Ele exercia a função de chefe político, aquele que escolhia os candidatos a prefeito, deputado e até governador. Quando não ficava satisfeito com o desempenho do político, ele passava a ser o próprio candidato. O homem dava as ordens e ai daquele que não as obedecesse!
Outra personalidade marcante da vida política da cidade era o padre. Digamos que o padre foi um coronel esclarecido, afinal, estudara no seminário, a melhor escola da época. Ele não somente tomava de conta das almas dos que se foram, como das dos que ainda continuavam vivos.
Nos tempos atuais, a pessoa mais importante da urbe passa a ser o prefeito. Esse era um cargo para quem tinha amor à cidade. Naturalmente o cidadão deveria ser um dos mais populares. O prefeito não precisava prometer mundos e fundos, pois sua honestidade estava respaldada em seu passado sem mácula. O prefeito era aquela pessoa cuja sensibilidade captava o sonho de seu povo e o transformava em realidade. Sua administração simples, sem corrupção e com obras necessárias, falava por si própria.
O coronel se esvaiu com o fim das ditaduras e a queda paulatina do analfabetismo. O padre entrou em contradição com aquilo que pregava e com aquilo que praticava, caindo na desgraça do povo. Isso não quer dizer que não existiram padres e coronéis honrados. Difícil era combinar a forma autoritária de se fazer política com os princípios da exigente democracia.
Eis que a era dos prefeitos está se acabando. Nas mãos desses políticos, a prefeitura virou um balcão de negócios sujos. Infelizmente ser prefeito tornou-se sinônimo de pessoa que faz transações escusas e enriquece da noite para o dia. Quase todo candidato a prefeito deixa a população com uma pulga atrás da orelha. Hoje o prefeito é o Lobo Mau que pensa que o povo é a boba da Chapeuzinho Vermelho.
Assim aquele jovem idealista e cheio de bons propósitos está, cada vez mais, afastando-se da política. Esse parece ser o legado que os atuais prefeitos estão deixando para as futuras gerações. Em um futuro próximo, talvez a população sem prefeito encontre o seu caminho.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

um desenho

Por Raisa Christina

MORADOR DE RUA

Ninguém é morador de rua por acaso. O cidadão vai para a rua por absoluta falta de opção. Os motivos são diversos: o trabalhador perde o emprego e, sem condições de sustentar a família, cai no vício do álcool e logo é abandonado; o sujeito do interior é levado doente ao Instituto José Frota, e, após receber alta, dá-se conta de que não tem dinheiro algum e que seus familiares há muito retornaram para a cidade de origem. Sem alternativas, eles vão mendigando pela cidade.

Aquilo que mais dói no sem-teto não é o frio à noite, ou o calor e a fome durante o dia - nem mesmo a vergonha da condição de pedinte. O que realmente deixa o cidadão desamparado é perceber que, ao caminhar por uma calçada, com suas vestes e corpo sujos, as pessoas cruzam a rua e o evitam. O desprezo o faz invisível e, a partir desse momento, ele desacredita no mundo.

Estima-se que, em Fortaleza, o número de moradores de rua se aproxima de três mil e quinhentos. Até existem albergues, porém, em número insuficiente para acolher tanta gente. Os albergues estão mais para as estatísticas da campanha política de prefeito e vereadores que se avizinha do que para a solução desse grave problema social. Não se trata de tirar o sem-teto da rua, dar-lhe uma refeição e um cobertor que a questão estará resolvida. É preciso envolvê-lo em um projeto de trabalho em que ele acredite. Esse projeto social tem de ser uma ação permanente e conjunta entre União, estados e municípios.

O maior medo do morador de rua é a chegada da Copa do Mundo de Futebol ao país. Eles sabem que não podem aparecer por aí como o lixo da paisagem. Por falta de políticas públicas que lhes beneficiem, temem ser jogados para debaixo do tapete. Pois, quando começam a dizer que o número de moradores de rua é ínfimo, é bom ficar de orelha em pé.

E não me diga que por aqui não existe violência contra os moradores de rua e que esse fato acontece somente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Não se pode esquecer que, em dez de fevereiro deste ano, na pracinha em frente ao 23° Batalhão de Caçadores do Exército, no nobre bairro de Fátima, o morador de rua conhecido como Justino foi assassinado a facadas. Existem outros exemplos de violência com moradores de rua em Fortaleza. Não é para ter medo?