sexta-feira, 23 de setembro de 2011

GETÚLIO VARGAS DO SERTÃO CENTRAL

O processo em que o prefeito de Senador Pompeu, Antônio Teixeira, e sua equipe são acusados de fraude em licitações, dentre outras coisas, corre em segredo de justiça. Como, até a presente data, ele e seu vice se encontram presos, a oposição assumiu o poder pela vacância do cargo. Logo, instalou-se o procedimento na câmara municipal, com o objetivo de cassar o mandato popular do prefeito.

Acontece no país uma forte campanha contra a corrupção. Trata-se de uma ação da sociedade civil louvável e independente de cores partidárias. Não obstante esse clima, em Senador Pompeu, poucos acreditam que o prefeito esteja envolvido em tais falcatruas. Realizada pesquisa recentemente, ele se consagra com quase setenta por cento de popularidade.

Algumas ilações à altura desse contraditório fato passam pela cabeça da população angustiada da cidade. Teixeira continua preso, mas sabe-se que as empresas objetos da ação judicial também licitaram com outras cinquenta prefeituras. Por que esses outros prefeitos ainda não sofreram nenhuma consequência judicial? Todos esperam pelo resultado da quebra de sigilo bancário de Teixeira e seu grupo. Caso as provas colhidas não forem suficientes para condená-lo, seria o processo de cassação do mandato do prefeito junto à câmara municipal uma mera estratégia jurídica para um golpe político?

Defendo o julgamento por meio de plebiscito daquele que tem mandato popular. Se o povo o elegeu, cabe a essa mesma gente – após provas expostas, acusação e defesa prontas – julgá-lo através do voto, destituindo-o ou não: eis um dos sustentáculos da democracia direta. O afastamento do cargo de prefeito, por indício de prova, deveria ser circunstancial para não atrapalhar a investigação e nem o andamento da administração. Prisão somente em casos graves e mediante provas irrefutáveis.

No Brasil, todos lembram o suicídio de Getúlio Vargas, tido como um dos melhores presidentes do país, após ser massacrado pela oposição das mais diversas irregularidades. Com o suicídio, ele entrou para a História como o pai dos pobres. Não estaria a oposição em Senador Pompeu fazendo de Teixeira um novo Vargas, respeitadas as devidas proporções, e, desta vez, em vida?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

QUADRO NA MEMÓRIA

Em muitas ocasiões, vejo-me dizendo a mim mesmo que não soube educar, com a devida competência, meus filhos. E olha que sou um pai que costumava acompanhá-los nas tarefas escolares e orientá-los, se possível. Levava-os para a escola e pegava-os na volta, mas isso até uma certa idade. Até fixei residência no interior para que eles pudessem usufruir de uma maior liberdade, como jogar bola na rua, tomar banho de açude e andar de bicicleta. Estimulava as brincadeiras de esconde-esconde em casa e sempre passávamos as férias juntos, fosse na praia ou no sertão. Posso, pois, afirmar que sou um pai amigo.

A minha grande decepção é constatar que não soube fazer com que eles gostassem de estudar. Não se precipite em me condenar, pois é claro que lhes ofereci um dos melhores colégios particulares da capital, haja vista que carrego a frustração de ter estudado em escolas públicas decadentes. Adianto em mencionar que privilegiei o diálogo e orgulho-me de nunca ter usado da violência para agir com meus rebentos, o que não significa que eu não tenha sido firme em algumas questões que, a meu ver, pudessem lhes trazer sérios problemas.

Não pense que houve falta de carinho. Acredito que excesso também não. Mantemos um relacionamento harmonioso. Ao amanhecer, ainda hoje, todos adultos tomam-me a benção, dão-me abraço e beijo. Talvez seja por conta dessa atmosfera afetuosa que ainda não perdi a esperança de incutir-lhes o prazer do estudo e, nesse ponto, considero-me um incansável. Sempre que surge uma oportunidade, com jeito e carinho – para não me tornar um chato -, dou exemplo de pessoas que estudaram e venceram na vida, principalmente, aqueles que se tornaram sábios.

Poucos pais devem ter levado os filhos tantas vezes às livrarias como eu, pois sempre fui um leitor voraz de livros, revistas e jornais. Essa imagem de pai lendo em uma cadeira ou uma rede, com certeza, compõe um quadro que eles levarão na memória pelo resto da vida. E fico a matutar: meu irmão, por exemplo, bebe umas cervejinhas. Seus filhos também bebem e chegam até ao exagero. Tenho amigos que fumam e os filhos idem. Então não entendo porque essa lógica não acontece comigo.

Vem-me a lembrança de meu pai, agricultor que não concluiu o segundo grau e que, no entanto, teve a perspicácia de me fazer gostar da leitura, naturalmente sabendo despertar em mim o prazer pelo conhecimento. À boca da noite, ao chegar do trabalho, ele tomava banho, jantava e, religiosamente, ia ler o jornal. Passado algum tempo lendo as principais notícias políticas, chamava-me para que eu lesse em voz alta outras matérias do periódico. Às vezes, quando me dava conta, ele estava dormindo, o que me deixava chateado. Com o tempo, ainda que ele estivesse dormindo, eu já não mais me importava e continuava a saciar minha curiosidade de leitor.   

Penso que você, caro leitor, deve estar se perguntando por que eu não apliquei essa mesma fórmula aos meus filhos. Posso lhe garantir que tentei repetir essa ação e não obtive o menor sucesso. Imagine que, quando eu estava prestes a terminar esta crônica, pedi para que eles a lessem. Cheguei a entregar-lhes pessoalmente, mas eles não fizeram um comentário sequer. Até entendo que possam estar vivendo uma rebeldia sem causa, tudo bem. Estão naquele período em que fazem tudo ao contrário do que lhes peço. Diriam os psicólogos que é para chamar a atenção. Mas será que é só porque gosto de Beethoven, Mozart, Bach, Elvis Presley, John Lennon, Raul Seixas, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Fagner, que eles me atacam de axé music?