Canoa Quebrada (distrito de Aracati, a
A grana da construção civil não respeita nem as falésias. Algumas já estão sendo corroídas pouco a pouco pela doce fúria do mar e, apesar disso, ainda encontramos um condomínio se erguendo perigosamente próximo a elas. Não é difícil prever que, mais cedo ou mais tarde, ocorrerá uma tragédia. Nessa hora a TV mostrará todos nós chorando a mea culpa pela dor alheia.
Canoa Quebrada divide-se em duas: a Broadway cercada de pousadas e a vila dos nativos, conhecida como Rua do Estevão, onde restam as casas dos antigos pescadores e as de seus filhos. Compreende-se, pois, que os nativos foram enxotados e sobrevivem a duras penas do pescado, do artesanato e do trabalho doméstico. Os moradores da Rua do Estevão ainda sofrem com o barulho dos cataventos da usina de energia eólica que foi instalada em seus quintais.
À noite, o reggae e o forró são lembrados por jovens músicos da Broadway, embora a lua cheia implore o blues e o jazz. Os altos decibéis que vêm das caixas de som de bares, pizzarias e casas de show dão o tom da balbúrdia, do desrespeito, da arrogância e, muitas vezes, até do mau gosto musical de seus proprietários. E não se assuste ao deparar-se pelos becos com hippies tardios e jovens mendigos drogados. Por enquanto, eles são mansos, jura o dono de um hotel, sob o olhar desconfiado de um nativo.
Os turistas ricos voam de asa delta e sobem e descem freneticamente as dunas em buggies. É uma pena que, lá de cima, eles enxerguem apenas aquém do horizonte. Visite canoa partida, o local é uma beleza! O turista quer fortes emoções. Ah, ele não sabe... As fortes emoções moram ao lado, com a gente pobre e humilde da Rua do Estevão.
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