O sertão está lindo. Tudo lá é verdejante. Rios, riachos e grotas estão cheios. Os peixes vão à procura da desova e, ao contrário da corrente, sobem às águas de cabeça acima, pululam a olhos vistos a concretizar o milagre da multiplicação na mesa dos sertanejos. É chegada a hora de visitar seu torrão e sua gente porque, depois de julho, a paisagem começa a mudar de cor. Êpa! É bom se prevenir. No sertão nem tudo está às mil maravilhas. O inverno está sendo ótimo, mas há anos não chovia tanto, então as terras ficaram embrejadas - foi um aguaceiro de lascar. O homem do campo acostumado a plantar nas primeiras chuvas, logo perdeu as sementes. Por sinal, não se vê mais adjutórios nas roças. Aqueles que insistiram em plantar plantaram tarde e, por enquanto, ainda não é tempo de colheita. Em outras palavras, teremos uma safra de pouco milho e feijão.
Apesar da alegria nos rostos dos mais velhos, convém não se empolgar. O sertão não é mais o mesmo. Os animais, por exemplo, estão desaparecendo. O gado, nas pequenas e médias fazendas, é bem pouquinho. O leite mal sobra para um queijo fresco de coalho que, por sua vez, caiu de preço no mercado. Os cavalos, burros e jumentos são raridade nos terreiros das casas. As feiras desses animais estão se acabando.
Aliás, nunca vi tanta motocicleta pelas estradas vicinais do sertão. O jumento perdeu a serventia, agora se tange a miunça montado no cavalo-ferro. Não se escuta o aboio do vaqueiro e nem o canto melancólico da Asa Branca. Luiz Gonzaga fez bem em ter se mudado para o céu, ele não iria agüentar esse forró sem musicalidade e, muito menos, essas letras sem poesia que tocam pelas bandas do interior. A moto virou o sertão de cabeça para baixo. Com ela e com o celular, os assaltos passaram a ser a marca registrada da zona rural. Até a reforma agrária deixou de ser o ideal da juventude.
Hoje, sem o sonho de dias melhores numa terra em que poucos trabalham, os jovens do sertão, à base de pedra na lata, falam numa vaquejada em que a motocicleta tomou lugar do cavalo. Oxente!
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