Ela não é baixa nem alta; nem feia, nem bonita; nem simpática, nem carrancuda. Parece carregar um mistério. Quando se chega perto dela, o que se vê é uma pérola de pessoa. Assim são todas as mulheres. Nascida e criada pelas bandas do sertão central do estado do Ceará, estudou em escolas de difíceis e distantes travessias Ainda mocinha, deixou a roça e veio para Fortaleza, seu palco de sobrevivência.
Trabalhou em diversas profissões até se encontrar como professora. Aos poucos, pessoas velhas, doentes e pobres advindas dos sítios Campos, Cipó, Mandacaru e Canudos batiam-lhe a porta â procura de médicos e hospitais. Essa nova missão lhe veio em silêncio, como flor que desabrocha de madrugada e preenche todo o coração.
Com voz calma e postura tranqüila, ela recebe todos os doentes, sejam seus parentes, amigos ou desconhecidos. Pelo caminho da vida, ela conhece médicos, enfermeiras e o mais humilde dos serviçais – o auxiliar de serviço, por isso, sempre deu um jeito de acomodá-los. Caso não conseguisse uma vaga no hospital, havia problema: ela levava o doente para sua própria casa. É bom frisar que ela jamais tirou proveito dessa situação, nunca aceitou sequer ser gratificada ou, como é comum, tornar-se política.
Não lhe interessa se a pessoa veio fazer exames de rotina ou se está com câncer em estado terminal – ela os trata da mesma forma. Há quem diga que o cuidar de suas mãos derrama doçuras, o seu olhar brilha compreensão e a sua voz sopra uma brisa de puro carinho. Essas pessoas que lhe caem no colo, em seu entendimento, são dádivas para que ela possa revelar seu sentimento de solidariedade.
Milhares de pessoas do interior moram aqui na capital. Pelo menos uma dezena delas acolhe os conterrâneos doentes em suas casas. Através do exemplo dessa pessoa, que, por simplicidade, prefere não ter o nome mencionado, procuro homenagear todas as criaturas anônimas e discretas que, quase sempre pobres, ainda conseguem enxergar e amenizar o sofrimento alheio.
Um comentário:
maravilha de crõnica
Postar um comentário