domingo, 1 de maio de 2011

ZÉ MARIA DO TOMÉ


Fui criado com pirão, leite e bastantes frutas vindas do sítio de minha avó. Aliás, fruta era coisa de menino, especialmente as colhidas e comidas na própria árvore. Essas, sem dúvida, são mais saborosas. O caju, a manga, a goiaba, a banana, a tangerina e o sapoti eram plantados nas margens do riacho, terras naturalmente férteis e, quando muito, misturavam-se ao esterco curtido de gado, por isso floresciam saudáveis e apetitosos.

Hoje as terras em que as sementes dessas e de ouras frutas são plantadas recebem uma carga enorme de produtos químicos, os chamados agrotóxicos. O objetivo da utilização desses produtos é combater as pragas agrícolas, facilitando a produção de frutas maiores, mais bonitas e “menos defeituosas”. É exigência do mercado seduzir os consumidores com grandes exemplares de bela aparência.

Acontece que o agrotóxico também é um veneno e, portanto, pode causar diversos males à saúde do ser humano, dos animais e do próprio solo. O Ceará é o estado que mais consome agrotóxico no nordeste e, no Brasil, fica em quarto lugar. Sabe-se que, num distrito de Limoeiro do Norte (194 km de Fortaleza) chamado São Tomé, uma considerável parte da população vem sofrendo de intoxicação aguda decorrente da pulverização aérea de agrotóxicos, apresentando irritação nos olhos, tontura, depressão, fraqueza óssea, sangramento, falhas da memória e câncer. Pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Ceará apontam, inclusive, que a água da região está contaminada.

O agronegócio não esperava que, em meio à zona rural do baixo Jaguaribe, existisse um cidadão, desses forjados nas lides sindicais, que acreditava em uma sociedade compartilhada e justa. Ele lutava junto aos trabalhadores por melhores condições de vida e, dessa forma, contra o uso indiscriminado dos agrotóxicos. Foi, com sua sensibilidade e sua atenção, um dos primeiros que percebeu a coceira no corpo das crianças e a tosse seca dos jovens desde o início da pulverização das plantas na área.

Não tardou e vieram os laudos médicos comprovando que seus companheiros estavam com câncer e outras doenças. Zé Maria não era de desanimar e, ao contrário, arrebanhou mais gente em protestos com reuniões, passeatas e abaixo assinados junto às autoridades. Com atitudes ousadas e solidárias, tornou-se uma pedra no meio do caminho do agronegócio. Zé Maria foi assassinado em 21 de abril de 2010 e, desde então, perdi todo aquele prazer infantil de saborear as frutas.

2 comentários:

Eunice disse...

Óla meu querido amigo lí seu artigo lamento a morte deste homem
carajoso e batalhador mais na maioria das vezes não encontram o apoio e é castigado por lutar por coisas erradas.Deus viu a luta dele. Um grande abraço meu amigo!!!

Saraiva Junior disse...

Caríssima amiga Eunice, um grande abraço estendido a todos os seus. E que satisfação tê-la em meu blog! Gostei dos seus comentários a respeito do Zé Maria do Tomé. É importante a gente divulgar as injustiças, quem sabe, um dia a coisa possa melhorar.
Abraço Fofinha,
Saraiva Júnior