domingo, 1 de maio de 2011

VIDA DE GADO

Ah, Caro leitor! Se você é daqueles que nunca precisou ir a um terminal de ônibus, sem dúvida, é um sujeito de sorte. Pois na hora do rush, quando o trabalhador vai pegar o ônibus, é um “deus nos acuda” que você nem imagina. Primeiro, entra-se numa fila onde se é empurrado de um lado, puxado de outro e não se pode descuidar dos bolsos. As mulheres, então, passam por uma situação vexatória em que são apalpadas e agarradas pelos tarados de plantões. Se vacilar, a carteira é roubada em segundos.

O ambiente de qualquer terminal de ônibus é de uma aparente tranquilidade com a conivência dos que fazem vista grossa. Lá, por exemplo, vende-se de tudo. Há tapioca sem sabor, café frio, bolo gorduroso, suco aguado e churrasco de carne duvidosa. Há também cachaça, farofa e cassetete nos peitos de gente simples. Sabe-se ainda que o que rola por fora são outras drogas. Bom, o preço é baratinho, feito laço armado para segurar uma rês desgarrada.

Quem adentra um terminal com aquelas cercas de arame moderno, vê a multidão descontrolada num corre-corre de quem não pode se atrasar para o trabalho, escuta o barulho ensurdecedor do motor dos veículos, repara nos rostos suados daqueles que fazem uma jornada de doze horas de trabalho, percebe o choro involuntário de uma criança e tem a nítida impressão de que se encontra mesmo em um curral humano onde as pessoas são tangidas não por acaso.

Nesses dias de chuva, ao olhar para a cobertura dos terminais, vê-se um teto que mais parece uma peneira. O cidadão se arruma para ir ao trabalho, entra no terminal enxuto e sai molhado – isso se escapar de um pedaço de alumínio ou zinco que porventura despenque do alto e caia em sua cabaça.

Essa batalha diária não tem finalmente. Chega o momento em que o cidadão consegue botar o pé dentro do ônibus para tomar outro susto: uma placa, ao lado do cobrador, avisa que o limite de passageiros é de vinte e cincos sentados e trinta e oito em pé. Alguns assentos foram retirados e os que ficaram não possuem o menor conforto. Se não sofrer assalto e chegar com vida ao seu destino, o trabalhador suspira e diz: Ê vida de gado!

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