quarta-feira, 16 de março de 2011

DE VOLTA AO MESTRE SÓCRATES

Tomava o meu café, antes de sair para trabalhar, e assistia ao jornal televisivo do dia quatro de março. Era veiculada uma matéria que explicava por que as mulheres prestam mais atenção do que os homens nas liquidações. E mais: garantia um estudioso do assunto ser a mulher vocacionada para realizar o pagamento a prazo, enquanto o homem era mais objetivo e preferia pagar à vista.

Estranho esse tipo de matéria no meio de um telejornal. A idéia é claramente induzir o telespectador ao consumo. Ora, após as despesas de final de ano, o momento é mais propício para o cidadão fazer um balanço em suas contas! Na verdade, esse apelo mercantilista não chega a ser nenhuma novidade, uma vez que, nas novelas e nos jornais, dá-se sempre um jeito de empurrar o incauto telespectador às compras.

Por falar em novela, é comum a mocinha, sem ver e nem pra quê, entrar em lojas de grife, puxar o cartão de crédito e efetuar muitas compras, deixando o público feminino com água na boca e, naturalmente, disseminando a discórdia no lar. Ah, mas o galã não fica por baixo! Também sem a menor convicção no roteiro da historia, ele toma um uísque, atende ao celular, entra em seu carrão importado ou pega um avião para Nova Iorque, antes, porém, a telinha evidencia as respectivas marcas.

O telespectador, no mínimo, deve se perguntar de onde surge tanto dinheiro nos bolsos de tais personagens. Esse fato me faz lembrar os antigos filmes de caubói, em que o protagonista, para se livrar das armadilhas dos bandidos, disparava infinitamente seu revólver cheio de bala, sem que soubéssemos de onde vinha tanta munição.

Antes de o jornal terminar, foi noticiado mais um crime bárbaro em família diante de uma criança. Um analista de plantão – se não estou enganado, um sociólogo – comentou que esses crimes ocorriam porque as pessoas estavam cada vez mais egoístas e consumistas. Talvez fosse o momento de refletir sobre as palavras do filósofo Sócrates, ao ser perguntado por um discípulo que o viu no centro comercial de Atenas: “Mestre, o que fazes aqui?” Ele, então, respondeu: “Observando a enorme quantidade de objetos dos quais não preciso para ser feliz.”

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