Ninguém é morador de rua por acaso. O cidadão vai para a rua por absoluta falta de opção. Os motivos são diversos: o trabalhador perde o emprego e, sem condições de sustentar a família, cai no vício do álcool e logo é abandonado; o sujeito do interior é levado doente ao Instituto José Frota, e, após receber alta, dá-se conta de que não tem dinheiro algum e que seus familiares há muito retornaram para a cidade de origem. Sem alternativas, eles vão mendigando pela cidade.
Aquilo que mais dói no sem-teto não é o frio à noite, ou o calor e a fome durante o dia - nem mesmo a vergonha da condição de pedinte. O que realmente deixa o cidadão desamparado é perceber que, ao caminhar por uma calçada, com suas vestes e corpo sujos, as pessoas cruzam a rua e o evitam. O desprezo o faz invisível e, a partir desse momento, ele desacredita no mundo.
Estima-se que, em Fortaleza, o número de moradores de rua se aproxima de três mil e quinhentos. Até existem albergues, porém, em número insuficiente para acolher tanta gente. Os albergues estão mais para as estatísticas da campanha política de prefeito e vereadores que se avizinha do que para a solução desse grave problema social. Não se trata de tirar o sem-teto da rua, dar-lhe uma refeição e um cobertor que a questão estará resolvida. É preciso envolvê-lo em um projeto de trabalho em que ele acredite. Esse projeto social tem de ser uma ação permanente e conjunta entre União, estados e municípios.
O maior medo do morador de rua é a chegada da Copa do Mundo de Futebol ao país. Eles sabem que não podem aparecer por aí como o lixo da paisagem. Por falta de políticas públicas que lhes beneficiem, temem ser jogados para debaixo do tapete. Pois, quando começam a dizer que o número de moradores de rua é ínfimo, é bom ficar de orelha em pé.
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