sexta-feira, 29 de julho de 2011

LEMBRANDO VOLTAIRE

Qual o prefeito cujo irmão exerce a profissão de carroceiro em sua cidade? E cujos pais, trabalhadores rurais aposentados, continuam morando na mesma casa simples de um conjunto habitacional? Sua família constitui-se de gente humilde e trabalhadora, que quase não teve a rotina alterada após ele ter sido eleito prefeito da cidade de Senador Pompeu.

É importante registrar que ele fez significativas obras em todo o município e que suas origens políticas advêm das pastorais da igreja católica. As pessoas da cidade sabem onde encontrá-lo, afinal, ele tem residência fixa, pode ser visto pelas ruas, toca violão e, vez por outra, toma uma cervejinha pelos bares. Seria à toa o fato de ele estar em seu segundo mandato popular?

Mas vejam, caros leitores, que, de um dia para outro, esse homem teve sua vida totalmente transformada: de quase herói, passou a ser procurado pela polícia, ele e mais de trinta pessoas ligadas à prefeitura. É que existe uma séria denúncia criminal impetrada pelo Ministério Público do Ceará contra o prefeito e seus aliados. Tudo leva a crer que a investigação que estrutura essa denúncia – e talvez outras que virão – foi um trabalho criterioso e bem fundamentado.

O que se estranha nesse triste episódio é o papel da imprensa, ao veicular insistentemente notícias sobre o prefeito – que se encontra preso, neste momento – e carregar uma lógica perversa que deixa subentendido ao expectador menos avisado uma quase condenação. Tudo isso sem falar que o prefeito ainda não foi ouvido, não apresentou provas e nem sequer apresentou seus argumentos de defesa.

Portanto, faz-se conveniente lembrar uma frase do filósofo e escritor francês Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Para que a justiça prevaleça, é fundamental ouvir o que o prefeito tem a dizer em sua defesa.

É até natural que seus opositores se animem diante dessa lamentável situação pela qual passa o jovem prefeito de Senador Pompeu. Antes, porém, de se fazer julgamento precipitado e condená-lo, que tal aguardar o outro veredicto que virá das urnas? Talvez as bandeiras vermelhas nas janelas das casas daqueles que esperam o prefeito sejam um sinal de esperança, não de luto.