sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

EM SOLO LUNAR

Ultimamente minha imaginação deu para transitar com frequencia por mundos extraordinários e surreais. Às vezes, tenho até medo de estar ficando com o juízo fraco, como dizia meu pai quando me pegava lendo algum livro. No entanto, diante da realidade em que vivemos, é você, caro leitor, quem vai me dar o meu diagnóstico: se vivo no mundo da lua ou se estou com o pensamento obcecado por buracos.

Pois você acredita que me ocorreu de pensar que os trabalhadores da Cagece, ao escavarem esse novo buraco na Avenida Dom Manuel, aqui em Fortaleza, encontraram aquele túnel que levou os assaltantes até o cofre do Banco Central? Até aí, tudo é possível, nada demais. Acontece que, em minha ficção paranóica, os homens da Cagece se depararam com a turma do Alemão que, supostamente escondida, ainda contava pacientemente o restante do dinheiro fruto do famoso assalto.

Veja até que ponto vai este meu desvario. Noticiou-se que o governador Cid Gomes havia viajado à Europa para, dentre outros objetivos, verificar o funcionamento dos metrôs mais modernos de algumas capitais. Fui dormir encucado com essa questão. Não tardou muito e, durante a madrugada, sonhei que o governador não havia ido à Europa coisíssima nenhuma. Conforme meu pesadelo, ele havia entrado em um buraco do metrô, aqui no bairro Benfica, e ido à Maracanaú – tudo isso por debaixo da terra, afinal, metrô que se preze é assim. Ao voltar, Cid Gomes não achou a saída. Continuou perambulando pelos túneis do metrô e, enfim, chegou à estação Engenheiro João Tomé, no centro de Fortaleza. De lá, resolveu dar uma esticadinha até a praia de Iracema. Quando estava prestes a furar o Aquário, eu me acordei.

Também foi comentário geral o fato de que a prefeita Luiziane Lins estava um pouco afastada de seus secretários, vereadores e – pasmem! – da população. No estado mental alfa em que me encontrava, ela estava tapando o buraco da Avenida Leste Oeste, quando, por um breve descuido, caiu nele, sofrendo várias escoriações no rosto. Depois de alçada, levaram-na ao Instituto Doutor José Frota, Hospital de Traumas, conhecido como Frotão. Foi um fuzuê danado, pois, devido aos ferimentos, nem os médicos nem as enfermeiras a reconheceram. Luiziane repetia “Gente, eu sou a prefeita!”, ao que o pessoal respondia com mangofa ou cara feia. Neste momento, não me aguentei. Resolvi intervir no sonho para tomar suas dores, dizendo: “Vocês estão loucos?” (Imagine, logo eu falando assim!) “Prestem atenção, pois esta é, sem dúvida, a nossa prefeita. Olhem bem para ela!” O médico, então, fez menção de estar reconhecendo-a e logo quis atendê-la. Ela, porém, recusou-se e foi para o último lugar da fila. Alguém, então, gritou: “Essa é mesmo a nossa prefeita!”

Há ainda a história de que a cidade de São Paulo oculta uma outra cidade, completamente subterrânea, com enormes galerias de esgotos e muitas ratazanas. Boatos dessa natureza sempre me deixaram arrepiado. Depois tomei conhecimento dos bunkers de Saddam Hussein, no Iraque; das montanhas ocas habitadas pelo terrorista Bin Laden e seu séquito, na Arábia Saudita; das usinas nucleares instaladas debaixo das montanhas de Mahmoud Ahmadinejad, no Irã. Histórias assim só me põem cada vez mais de orelha em pé.

Esse meu frenesi nervoso e angustiante, relacionado a cavernas, cidades subterrâneas e passagens secretas, parece ter vindo de longe. Meu pai é que provavelmente tinha razão, ao se preocupar com minha mania de ler Júlio Verne, especialmente o livro “Viagem ao centro da terra”.

Meu caro leitor, dou-me conta de que minha psicose depressiva não tem nada a ver com os buracos de Fortaleza: eu, sim, é que estou de miolo mole!

NA TERRA DE MOREIRA CAMPOS

Em janeiro último, estive de férias em meu torrão natal, Senador Pompeu (295 km de Fortaleza). Fiquei surpreso com o número de jornais que parecem chegar à cidade: uns cinquenta, dentre assinaturas e os que ficam disponíveis nas bancas. Nos fins de semana, não encontrei onde comprar um jornal sequer.

Esse fato per si merece uma reflexão, haja vista que o universo populacional da cidade é de 15.000 eleitores, mais ou menos. Pelas informações que obtive, os periódicos que chegam por lá são lidos por funcionários públicos e bancários. E os universitários? E os estudantes do ensino médio? Pelo menos comprando os tais periódicos, ninguém os vê.

Certo dia, encontrava-me em um conhecido bar da cidade, o bar do Zé Edilson, a conversar com amigos e decidi deixar um jornal “abandonado” sobre outra mesa para ver o que acontecia. No entra e sai de tanta gente, ao cabo de uma hora, apenas uma pessoa pegou o jornal para olhar o caderno de esportes.

Por que na terra do escritor José Maria Moreira Campos, exímio contista, lê-se tão pouco? Sabe-se que não é somente Senador Pompeu que vive essa situação, pois boa parte das cidades brasileiras apresenta o mesmo problema. A questão é tão delicada que pode estancar todo esse clima de desenvolvimento no qual o país vive, justamente pela falta de uma educação de mais qualidade.

Um país que se quer grande e livre precisa investir na leitura. Ler um jornal de forma crítica, quando se é jovem, é como descobrir a fonte que serpenteia o caminho do conhecimento. O jornal também não pode ficar apenas numa atitude passiva, esperando que o eleitor vá até a banca para comprá-lo. Talvez falte ao jornal um maior envolvimento com a comunidade. Quem sabe, não será esse o seu futuro?

Milagre não acontece de uma hora para outra. Criar o hábito de ler em um país que viveu um tempo recente sob ditadura, demanda tempo. Enquanto não for feita uma reforma de distribuição de renda para que as pessoas possam exercitar efetivamente a democracia – e tanto uma família de trabalhadores como um professor possam pagar a assinatura de um jornal -, os jovens continuarão preferindo assistir ao raso programa big brother a ler um jornal.