domingo, 19 de julho de 2009

ROTEIRO BIOGRÁFICO


A história do futebol cearense precisa ser escrita. Não me refiro apenas aos dados estatísticos, como datas de jogos, resultados de campeonato, autores de gols, rendas. Isso tudo é importante, mas é pouco. Para se ter uma idéia, talvez não exista uma biografia de jogador alencarino. É claro que vários craques engrandeceram o futebol cearense e merecem ter suas histórias contadas em livros. Para dar exemplos, podemos citar França, Jombrega, Carlito, William, Alexandre, Pacoti, Moésio, Carneiro, Aloísio Linhares e tantos outros.

A nova geração de torcedores, por exemplo, não sabe quem foi Mozart Araújo Gomes, o Mozarzinho. Um dos melhores jogadores do futebol cearense, ele, em sua fase áurea, não deveu a nenhum jogador do sul maravilha. Aos dezessete anos, em 1956, Mozart foi convocado pelo técnico Tim (Elba de Pádua Lima) para a seleção cearense de futebol. Era chamado pela imprensa esportiva de “o garoto revelação”. Teve uma rápida passagem pelo Clube do Remo do Pará, onde deixou excelente impressão.

Foi, no entanto, ao jogar pelo Náutico Atlético de Capibaribe (NAC), de Pernambuco, que Mozarzinho viveu uma das fases mais gloriosas de seu futebol. Chegou, pois, a ser indicado para integrar a seleção brasileira que iria excursionar pelos países da América Latina em 1957, ocasião em que se preparava para a próxima Copa do Mundo na Suécia. Caso esse fato viesse a se concretizar, ele disputaria a camisa dez com o craque Dida, o titular da posição, e com a revelação do futebol à época, Pelé. Isso é, sem dúvida, somente um aperitivo para se ter a dimensão do futebol de Mozart.

Ele usava, com extrema habilidade, todos os fundamentos do futebol. A famosa bicicleta, uma jogada plástica de rara beleza, era executada por Mozarzinho com a destreza de um trapezista de circo. Talvez tenha feito poucos gols de cabeça, porém, os que foram realizados ocorreram através de verdadeiros vôos em que os goleiros eram tomados de grande surpresa e os torcedores maravilhavam-se.

Ele ainda jogou, aos dezenove anos, no Fluminense Futebol Clube, do Rio de Janeiro, um dos grandes do futebol brasileiro - time de Telê Santana, Castilho, Altair e Valdo. Não é necessário explicar porque ficou deslumbrado pela, então, capital do Brasil. Basta pensar em Copacabana, Corcovado, seus famosos bares e suas belas mulheres. Aliás, no quesito mulher, ele foi um irremediável apaixonado. Conseqüentemente adquiriu o hábito de beber umas cervejinhas. Engordava com facilidade. Sua luta contra o álcool e a balança foi eterna e inglória. Sua história extra campo assemelha-se, em muitos aspectos, à de outro gênio do futebol brasileiro, aquele que deu a Copa do Mundo de 1962 ao Brasil, Mané Garrincha.

Mozarzinho, em suas arrancadas de contra-ataque e na maneira de proteger a bola pelo lado direito de campo, lembrava, com a devida antecedência, o astro do futebol argentino Diego Maradona. Ao jogar de cabeça erguida, tendo em vista a movimentação dos jogadores por todo o campo e executando lançamentos precisos, aproximava-se de Puska ou Gérson. Já próximo da área adversária, ao aplicar um drible no zagueiro, preparar a bola para a perna esquerda e soltar uma bomba certeira nos fundos da rede, parecia-se muito com Rivelino.

Esteve no futebol paulista defendendo o Comercial de Ribeirão Preto e o XV de Jaú. No início dos anos sessenta, retornou a seu ninho no Fortaleza Esporte Clube, onde deu muitas alegrias aos torcedores do Leão do Pici. Em 1964, tendo o Tio França como técnico, estruturou o América Futebol Clube. Nessa temporada, o time venceu de goleada todos os ditos grandes clubes do futebol cearense. Jogou ainda no Ferroviário Atlético Clube e formou a base de um time que seria campeão no próximo ano. Em uma fase difícil de sua vida, jogou pelo Ceará Sporting Club, o maior rival do Fortaleza, fato que causou uma enorme polêmica em sua família - todos torcedores do Leão- e nos demais torcedores do futebol cearense. Encerrou sua brilhante carreira futebolística dando um show de bola e sagrando-se campeão pelo Fortaleza em 1969.

Como técnico das categorias de base do Tricolor do Pici, descobriu e lançou novos valores. Foi técnico ainda de alguns times pequenos e não chegou a ter o mesmo sucesso de seu irmão Moésio Gomes. Afastou-se do futebol e, longe do aplauso do público, caiu em depressão. Inevitavelmente, afundou-se no álcool. Não fosse o amor e a compreensão de sua mulher, dona Maria Eugênia Nepomuceno Gomes, a bela Baiana, talvez Mozart não tivesse onde atracar nessa vida.

Mozart Araujo Gomes está aniversariando no dia cinco de janeiro. Esse curto e instigante panorama demonstra que ele já fez por merecer uma biografia. Como diria o escritor e biografo Stefan Zweig, em A História Como Poetisa: “Ela jamais se repete. Brinca, às vezes, com analogias... simula semelhanças... mas nunca reproduz igualdades, sempre inventa algo novo.” Mozarzinho foi, sem dúvida, um inventor na arte de jogar futebol.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

MUITO LIXO E POUCO LUXO


O lixo que é colhido em alguns bairros da cidade de Fortaleza, em grande parte, vem sendo jogado ao longo da rodovia CE-060, no trecho que liga à Maracanaú (19 km de Fortaleza) e pela avenida Perimetral. Acredito que isso venha acontecendo devido ao fato de os caminhões estarem abarrotados de entulho e talvez até por descuido da empresa coletora. Essa questão do lixo é crucial e merece, portanto, um amplo debate entre os órgãos públicos, as empresas privadas e a população.

Se o leitor prestar atenção em como é feita a coleta desses resíduos sólidos, irá perceber que os caminhões praticamente não param. Os garis é que têm de correr com os sacos de lixo atrás dos caçambeiros e, no momento de arremessá-los em direção à trituradora, muitas vezes, esses sacos se espatifam no ar e caem no chão. Resultado: ruas mais sujas.

Os lixões preocupam cada vez mais a sociedade. E não se pode desvincular seus males poluentes da questão da propriedade capitalista que, conforme a história do gênero humano registra, seu objetivo máximo é o lucro de mercado, deixando de lado as fontes naturais de vida. Enquanto não temos coragem de rever essa questão, a floresta amazônica, em pouco tempo, dará lugar a um grande lixão. Aliás, não é à toa que navios estrangeiros cheios de lixo querem descarregar no Brasil.

Mas há lixo de toda espécie em toda parte. No Senado Federal, ele está no disfarce de empregos com altos salários em empresas terceirizadas para os familiares dos senadores; nas prefeituras municipais, ele se encontra embutido nas obras superfaturadas e no piso salarial garantido por lei que não é pago aos professores. Sabe-se também que há muito lixo na tentativa de se acobertar as falcatruas, flagrantemente comprovadas, do banqueiro Daniel Dantas. Esse é o pior tipo de lixo, aquele que, além de exalar mau cheiro, mancha a história de um povo.

Luxo mesmo é somente o da senhora Maria de Fátima Cavalcante da Costa, de Lavras da Mangabeira (423 km de Fortaleza), que devolveu o cartão do Programa Bolsa Família após o marido ter se empregado. Essa lição advinda de uma pessoa simples, uma cidadã brasileira, deveria ser aprendida por todos e, principalmente, por uma certa elite deslumbrada e egoísta.