sábado, 12 de janeiro de 2008

MENINO ESQUECIDO

Final de ano e a cultura ocidental tange as pessoas para o mercado. O ponto alto são as comemorações, fundamentalmente dos ganhos econômicos de uns poucos. O culto a Baco dá a falsa impressão de que a festa é bela para todos. O sorriso superficial apenas macula a alma vazia no salão da existência. Talvez seria o caso de se fazer algumas reflexões, mas reflexões costumam estragar o bolo e, às vezes, a bebida da festa.

O Iraque, por exemplo, depois que foi invadido pelos Estados Unidos – que passaram por cima dos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) – virou tábua de tiro ao alvo, e sua população vem sendo sistematicamente assassinada. Os judeus, por qualquer motivo, encurralam os Palestinos até dentro das mesquitas. E tome bala e mortes! Na África milhares morrem de fome e de AIDS.

Não é necessário ir longe. No nordeste brasileiro, apesar da esmola do programa Bolsa Família, a região ainda é marcada como uma das mais miseráveis do planeta. Quem visita um acampamento dos trabalhadores, que lutam por um reles pedaço de chão, é capaz de sentir o drama desses pobres humanos.

A Amazônia é todo dia saqueada, invadida e queimada como testemunha de que a irracionalidade do capitalismo decretou o fim da vida na Terra. Isso sem esquecer que as gangues assolam as cidades grandes e pequenas com assaltos, seqüestros e assassinatos. É uma verdadeira afronta à população e ao Estado, como em uma guerra civil. Esse caos social é explosivo e tende a perdurar sem, contudo, apresentar o menor sinal revolucionário.

Ainda vem a mídia burguesa mascarar essa terrível realidade glamourizando a vida dos ricos e dos pobres como se todos vivessem em um mundo maravilhoso. É muito descaso e cinismo! Não dá para comemorar e, muito menos, para ser otimista. Essas posturas beiram ao ridículo. Quem sabe, ao olhar Àquela criança que nasceu humildemente em uma manjedoura (hoje esquecida do natal), se possa extrair alguma lição.

CAÇA AO TURISTA

O Brasil vem crescendo nos últimos anos, atesta pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. A indústria, o comércio e o conseqüente aumento do índice de emprego parecem ser o caminho certo para o desenvolvimento do país, não obstante o fosso entre pobres e ricos manter-se como um dos maiores do planeta.

O Ceará também foi contagiado por esse crescimento. Em muitos casos, o crescimento alencarino, segundo opinião de representantes de setores econômicos, traduz-se em caça aos turistas. O turismo é o “abre-te sésamo” para a redenção da economia de um estado pobre. Aos estrangeiros, vendemos nossas belezas a preço de banana, mesmo que tais belezas estejam rodeadas de favelas.

Fortaleza, então, virou a cidade de eventos medíocres destinados a atrair os benditos turistas. Vale tudo, até ouvir péssima música de algumas bandas de forró que denigrem a mulher, denominando-a de “cachorra” e de “prostituta”. Se o Rio de Janeiro tem carnaval e suas belas mulatas, por que o Ceará não pode ter suas bandas de forró e suas loiras oxigenadas?

A praia de Iracema é o bazar do sexo, droga e nenhum rock n’roll. É lá que fica o submundo do comércio da carne humana, nem tão somente infantil. A passarela do inferninho começa pelo estouro de fossas e esgotos nos bares do Centro Dragão do Mar, passa pelos altos preços do batido artesanato e termina nos braços do comprimido “boa noite Cinderela”, tudo no mais absoluto clima de um turismo suicida pela ânsia do mercado.

Na presente realidade sócio-econômica, a forma como o turismo é administrado serve primordialmente ao comércio. Por isso, em razão da falta de estudo profundo e planejamento detalhado, não existe preocupação com uma prática turística de qualidade. Que os políticos de centro se empolguem com esse tipo de turismo não é nenhuma novidade. Agora, encontrar políticos de esquerda eufóricos com a caça ao turista a qualquer custo é, no mínimo, estranho.